segunda-feira, 1 de junho de 2020

Método para descobrir a data de lançamento de uma canção no Brasil a partir da GRA (Guia de Recolhimento Autoral) - Parte 1: Músicas de 1977

A partir desta postagem ensinarei meu método para descobrir a data de lançamento de uma canção no Brasil a partir da GRA (Guia de Recolhimento Autoral), numeração de oito dígitos utilizada no Brasil entre Março de 1977 e Abril de 2001 (na verdade até fins de 2002 para gravadoras independentes) para identificação das canções nos discos brasileiros.

Nos LPs onde eram inseridas as GRAs? No selo do disco, como pode ser observado no selo do LP acima. Este LP do Genesis foi produzido pela Som Livre aproveitando repercussão de sua turnê no Brasil no início de 1977. Observamos no selo do LP o título da música, a GRA e os compositores de cada música.

Faço algumas ressalvas para essa identificação:

1) O que nos interessa são os quatro primeiros números. Dá para associá-los a cada mês do ano no período citado, como você poderá ver na tabela abaixo;

2) Essa numeração não segue uma ordem crescente lógica. Logo no seu primeiro ano há alguns saltos e voltas, como poderá ser observado na tabela abaixo;

Apresento abaixo uma tabela para o ano de 1977. Com os quatro primeiros números da GRA dá para saber a data de lançamento de uma canção neste ano e até cruzar informações. Por exemplo: O ECAD informa que a canção You light up my life da Debbie Boone foi a mais executada nas emissoras de rádio em 1977, porém pela GRA observamos que seu lançamento no Brasil foi em Outubro de 1977. O que podemos pensar? Teve uma execução absurda no final deste ano, muito antes de ser incluída na trilha sonora internacional de Dancin' Days, no inverno de 1978, disco que vendeu mais de um milhão de cópias.


Uma observação sobre a tabela acima: No início de Dezembro de 1977 as GRAs utilizadas tinham como início 68.289.XXX, ou seja, apenas com um 9 após os quatro números. No mês seguinte vieram as restantes.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Pat & Mick: House music ajudando a reabilitar o prestígio da disco music

A House Music, que domina as pistas de dança nos últimos 30 anos, é uma descendente direta da disco music. Foi criada em 1980 pelo DJ Frankie Knuckles na discoteca Warehouse Club de Chicago (a Warehouse club deu o nome House ao gênero musical), quando este DJ passou a incorporar batidas eletrônicas aos sucessos analógicos da disco music.

 DJ Frankie Knuckles na Warehouse Club de Chicago - Década de 1980 

A Disco music estava em baixa nesta época, vítima de sua própria super exposição nos últimos três anos. O ápice da rejeição aconteceu em 1979, quando um DJ de rock de uma rádio, que gritava "disco sucks", levou centenas de discos de disco music e os dinamitou em um estádio de futebol, para o delírio do público que foi ver esse show bizarro. O evento chamado Disco demolition night ocorreu no Comiskey Park em Chicago e suas imagens podem ser vistas por este link:
 https://www.youtube.com/watch?v=I1CP1751wJA

Neste contexto o grupo Odyssey lançou seu último grande sucesso, a canção Use it up, wear it out, que tocou bastante no Brasil na segunda metade de 1980. Você pode ver o grupo interpretando esta canção em uma apresentação no programa Top pop holandês por este link: https://www.youtube.com/watch?v=lj_BzlYdBoU

No restante da década de 1980 a música dançante, que se transformara em eletrônica com seus beats feitos por máquina, se dispersou em vários gêneros, após o colapso da disco: disco-funk (1979-1983), italo-disco (1983-1988), synth pop (1980-1989), funk oitentista (1980-1989), R&B oitentista (1982-1989), rap oitentista (1980-1989), rock dançante (1980-1989) e a house music, que começou a ganhar força a partir de 1986 e em 1989 superou todos os demais gêneros, para se tornar o mais importante deles.

A house music como descendente direta da disco music reabilitou a importância deste gênero setentista, regravando vários de seus sucessos e utilizando, a sua maneira, a estética disco, tanto sonora quanto visualmente. Um exemplo disso é o da dupla inglesa Pat & Mick (produzida pelos primeiros grandes produtores da house music, os ingleses Stock, Aitken e Waterman). Pela gravadora do trio, a PWL International, o duo Pat & Mick lançou uma série de regravações de sucessos da disco music em versão house, como Let's all chant, I haven't stopped dancing yet e, seu maior sucesso, Use it up, wear it out, grande sucesso em 1990.

A capa do single Use it up, wear it out da dupla Pat & Mick, lançado pela PWL International inglesa em 1990. No Brasil a canção foi lançada no álbum da dupla e em coletâneas da gravadora Stiletto.

No Brasil estas canções da dupla Pat & Mick, e o álbum que as reúne, foram lançadas pela gravadora Stiletto, que na época licenciava a PWL International.

Neste link você pode ver o videoclipe da versão de Pat & Mick para Use it up, wear it out: https://www.youtube.com/watch?v=V18hFV_amVQ

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Agora é que são elas - Internacional, votação para capa divulgada e CD cancelado

Agora é que são elas foi uma novela das 6 da Rede Globo exibida entre 24 de Março e 06 de Setembro de 2003. Sua trilha sonora internacional estava planejada para lançamento em Agosto de 2003, mas isto não aconteceu.

A Som Livre chegou a fazer uma enquete para escolher a foto da capa, assim como foi a do CD Desejos de mulher - Internacional, lançada em Maio de 2002. Foram disponibilizada três fotos da atriz Débora Falabella e os usuários escolheram qual estamparia a capa. As outras duas estariam no encarte, assim como ocorreu com o CD Desejos de mulher - Internacional.



As três fotos da atriz Débora Falabella disponilizadas no site da Som Livre.

A enquete esteve no ar no site da Som Livre em Junho de 2003, mas logo depois a gravadora desistiu de lançar o disco, pois a novela estava com baixa audiência e seu fim foi antecipado. Não foi divulgada a foto vencedora.

O repertório musical que estaria presente na trilha sonora não foi informado na enquete.

As fotos tornaram-se populares na Internet e anos depois seriam trocadas por membros de redes sociais como Orkut e Facebook e utilizada em bootlegs da trilha sonora internacional da telenovela.

terça-feira, 19 de maio de 2020

In the summertime do Mungo Jerry, o single mais vendido entre 1970 e 1979

Um single é um disco que contém entre uma a seis músicas. Tem este nome por ser vendido como uma obra que tem uma faixa principal vendida em um pequeno disco, o compacto, que na versão mais comum tinha sete polegadas de diâmetro. Geralmente os singles vinham em compactos simples (duas faixas, a principal, no lado A, e uma obscura, no lado B - daí vem o termo "lado B" para faixas mais obscuras).
Os singles eram o principal termômetro do sucesso na década de 1970. Os compactos mais vendidos foram grandes sucessos populares. Entre 1970 e 1979 o compacto mais vendido, de longe, foi o da canção In the summertime do grupo inglês Mungo Jerry, lançado pela gravadora Pye Records em 1970 e que no mesmo ano chegou ao Brasil por meio da gravadora Musidisc, do músico Nilo Sergio.

Mungo Jerry foi um quarteto de pop/rock inglês que tinha nos vocais Ray Dorset, o qual mantinha costeletas de responsa!

In the summertime foi lançada em 22/05/1970 e em 06/06/1970 entrou no top 100 do Reino Unido na 13ª posição. Uma semana depois foi para a liderança da parada, na qual permaneceu por sete semanas. No mundo liderou a parada de sucessos de 16 países: África do Sul, Alemanha Ocidental, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Nova Zelândia, Suécia, Suécia e Reino Unido. Acima podemos ver a capa do compacto lançado no Brasil.

A gravadora Pye nunca foi bem representada no Brasil, de 1968 a 1971 estava na pequena (e extinta) Musidisc e de 1971 a 1980 esteve na Continental (que priorizava a música popularesca brasileira e que hoje faz parte da Warner), com o período de 1977 a 1979 no qual esteve no catalogo da Chantecler (na época uma companhia do grupo da Continental) e um breve período na cambaleante Top Tape, entre 1980 e 1981. Mesmo mal representada, a canção foi um grande sucesso no Brasil e no mundo vendeu incríveis 30 milhões de cópias de seu single!


A música fazia parte do repertório voltado aos jovens do início da década de 1970, que era exibido em emissoras de rádio como a Mundial AM do Rio e Excelsior AM e Difusora AM de São Paulo. Também faz parte do grupo de músicas que representou o grande crescimento da música pop no Brasil entre 1970 e 1972.

terça-feira, 28 de abril de 2020

I'd rather hurt myself de Randy Brown, a Melô da asa

Algo que gosto de investigar como hobby são as músicas que fizeram sucesso pela inserção em comerciais de TV. Considero esta ação como uma vantagem dupla, ao escutar a canção lembra-se do produto e para o produto a canção ajuda a contar uma história.

Muitas destas canções que são veiculadas em comerciais de TV acabaram entrando em trilhas sonoras de telenovelas, como I'd rather hurt myself do cantor norte americano Randy Brown, que ficou conhecida no Brasil em 1979 como a Melô da asa. O termo melô se refere a algo que a música traz de destaque (a Melô do banjo, por exemplo, traz um solo de banjo, a Melô da princesinha traz uma cantora com voz de menininha). No caso da Melô da asa não foi um pedaço da canção, mas o comercial de TV que a popularizou no início de 1979. Ela foi utilizada na Rede Globo em um comercial da Rádio Mundial AM do Rio (uma rádio voltada ao público jovem, a qual fazia parte do Sistema Globo de Rádio) e trazia uma asa delta planando sobre o Rio de Janeiro. Apesar de ser lembrada pelo público, não há no You Tube um registro deste spot de TV. Uma pena. O sucesso foi tanto que a canção foi parar na trilha sonora da telenovela das 8 da Globo Pai herói, lançada em Maio de 1979 e que vendeu mais de um milhão de cópias, sendo a Melô da asa um dos destaques.

O cantor norte americano Randy Brown, artista da gravadora Parachute Records, licenciada no Brasil pela Tapecar.

O compacto simples com I'd rather hurt myself, lançado pela Tapecar em Agosto de 1978. A versão acima é uma reimpressão do compacto feita no final de 1978, quando a Tapecar passou a ter como parceira de distribuição a Som Livre.

O registro da época em vídeo que temos é a paródia feita pelo Renato Aragão para o programa Os Trapalhões, que pode ser acessada pelo link abaixo. A asa delta do comercial é citada visualmente neste esquete humorístico.

Renato Aragão interpretando a Melô da asahttps://www.youtube.com/watch?v=8kVOjtFvdQ8

domingo, 29 de março de 2020

As músicas classudas de 1981


1981 marcou no mundo da música o hiato entre duas eras, tanto no Brasil quanto nos países centrais do mercado do disco (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Holanda, França, Holanda, Alemanha, Itália, Irlanda e Suécia, com destaque para os dois primeiros). Nos países centrais a disco music entrava em declínio e dava espaço para o synth pop e o pop/rock oitentista que iriam dominar os próximos nove anos (1989 seria outro período de mudança). No Brasil a MPB setentista dominada pelos nordestinos chegava ao auge, mas logo cederia espaço para o rock nacional oitentista.

Neste cenário 1981 trouxe um conjunto enorme de músicas classudas. Creio que de todos os anos, foi o que mais contribuiu para o repertório das emissoras voltadas ao público adulto. Muitas das canções lançadas neste ano específico são executadas até hoje. Isto vale tanto para as músicas brasileiras (o pessoal da MPB tava afiado neste ano específico), quanto nas músicas dos países centrais da indústria fonográfica. Foi um período de destaque para uma soul music mais lenta e classuda, artistas que antes estavam ligados ao universo da disco music e com o declíneo do gênero procuraram novos caminhos. Também foi um período com um pop/rock suave, que inclui o gênero yacht rock, e muitas baladas românticas.

Montei uma pequena playlist para exibir meu ponto de vista. Confiram as canções classudas de 1981:
https://open.spotify.com/playlist/5lzV2l1axqTPBd6iriVRlX

sábado, 7 de março de 2020

Destaques do playlist da Rádio Cidade FM em Dezembro de 1981

Antes da invasão do BRock, a partir de 1983, os nomes da MPB estavam bem presentes nas emissoras jovens. Uma prova tá nesta lista abaixo, com os destaques da programação da Rádio Cidade FM no mês de Dezembro de 1981.


Em relação à lista de sucessos internacionais é interessante observar as canções Sign of the times do Bob James e Dancin' the night away do grup Voggue, que seriam incluídas na trilha sonora internacional de Jogo da vida (lançada em Fevereiro de 1982), Waiting for a girl like you do Foreigner, que seria incluída na trilha internacional de O homem proibido (lançada em Junho de 1982) e Souvenir da dupla OMD, que seria incluída na trilha internacional de Eu prometo (lançada em Dezembro de 1983!).

Em relação ao repertório nacional, creio que o ponto de virada para a inserção da MPB nas rádios jovens foi o êxito do Rock In Rio em 1985, que deu uma enorme visibilidade aos artistas de pop/rock brasileiros. Na segunda metade da década de 1980 músicas de artistas de MPB nas rádios voltadas aos jovens já não era comum.

Em relação à programação da Cidade FM do Rio, há pelo menos três fases entre 1977 e a década de 1990. Entre 1997 e 1982 havia uma programação orientada à disco music; de 1982 a 1991 uma programação orientada ao rock; de 1991 a 1995 uma programação mais pop, com boa participação da dance music da década de 1990, e a partir de 1995 o rock volta com mais força, já que a Jovem Pan 2 FM tomou para si as atenções no lançamento de dance music a partir de 1994.